Como eu amo viver no século XXI

Hoje de manhã, enquanto abotoava a camisa branca do dia de olhos postos na massa cinzenta que ocupava o céu, gritei para a Siri e perguntei-lhe se precisava de levar chapéu de chuva. Ela disse que era melhor. 

Isto, aliado ao facto de ela me chamar Rita Master of the Universe, é coisa para alegrar o meu dia independentemente de quantidade de chuvas de granizo que me caiam em cima só porque sou demasiado orgulhosa para andar de chapéu de chuva (estou a desejar ardentemente que este orgulho otário se dissipe aos 30, pois passo a vida de cabelo encaracolado e não são lindas beach waves). 

Preciosidades com o condão de mudar a vida de qualquer um igual a mim (i.e. satisfação máxima com o mínimo)

Aprendi recentemente que andei 29 anos a descolar post-its de forma errada (tantas imperfeições que poderia ter evitado quando aos 10 meses colava post-its nos biberons para distinguir o da manhã do da tarde...). 

Arranca-se o post-it do bloco puxando pelo lado e não por baixo, de forma a evitar post-its de saia levantada Monroe sobre a grade do metro style.

QI maximus

Hoje, fiquei a saber confirmadamente que no hemisfério sul a água no ralo corre para o outro lado.

Atingi o cume da pesquisa do conhecimento. Posso ir para o sofá ver TVI para o resto da vida. 

Vemo-nos daqui a pouco, Goucha. 

As minhas infelicidades são do mais leviano que há

Levar com gotas de água na cabeça é a epítome da humilhação pública para mim. É uma sensação de total falta de controlo do meu destino. EU é que devia decidir quando fico encharcada. EU é que devia decidir que tipo de água nojenta é que quero em cima de mim. 

Pior só mesmo quando as gotas acertam em cheio nos óculos e fico com aquele ar trágico-nerd de olhos esbugalhados e sem amigos. 

Estou a sofrer do síndrome o rabo não me cabe nas calças.

Bem, ele até cabe, mas fica ali estrafegado género saco de cama enfiado a extremo custo dentro do seu saquinho protetor após 3 dias de festival de verão (por favor, não estejam já a visualizar o meu rabo em tamanho de autocarro. Aliás, de preferência não o visualizem de todo (tarefa difícil dado não ter ainda falado em mais nada para além da gigantez do meu rabo)). Mas, verdade verdadeira é que ele está efetivamente difícil de arrumar. Sinto-me solidária com o conjunto de mulheres que ouço, desde pequena, dizerem “tudo o que como a mais vai diretamente para o rabo” e ainda mais solidária com aquele outro conjunto que diz “eu cá engordo racionalmente: em todo o lado”.

Louvados sejam os modelos de calças relaxed que populam as lojas este ano. Para além de sentir que ando à solta (men, you are not alone), gosto de pensar que é um sinal de que os estilistas estão a sorrir levemente do alto dos seus estiradores, enquanto rabiscam corpos esbeltos em trajes coloridos com a mão direita e seguram um cigarro fumegante com a esquerda, pensando para si mesmos, sim Rita, é OK estar gorda, podes relaxar.

E depois querem que eu seja copo meio cheio

Vibrei de emoção quando me apercebi que o pianista do sítio onde estou a almoçar estava a tocar o Time After Time da Cindy Lauper. Um senhor crescido e tudo! A minha esperança de que a música dos 80s regresse para governar o mundo renasceu com força e cabelos volumosos à la Jon Bon Jovi.

No entanto, rapidamente um turbilhão de notas chorosas substituiu a sonoridade perfeita da Cindy assim que os Jardins Proibidos ecoaram no centro comercial. Continuei a ruminar a minha alface, duplamente infeliz por me ter apercebido que sabia a letra toda. 

Pensei que já tinha visto tudo, até me agarrarem no Saldanha, pedirem ajuda e não me dizerem obrigado.

Felizmente, só guardo rancor das coisas mais estúpidas.

EXT. SALDANHA - DIA

SENHORA de meia idade de ar atarantado, como quem se vê perdida no meio de uma rua apertada ladeada de arranha céus, agarra braço de JOVEM esbelta e de ar inteligente que passava por ela naquele instante. 

SENHORA
Pastelaria Versailles?

A JOVEM contempla o seu braço torneado pela manápula alheia e sacode-o com um gesto rápido, de narinas dilatadas, e fala sem sorrir.

JOVEM
Do outro lado da avenida. 

A SENHORA afasta-se sem mais dizer e volta a olhar para o topo dos prédios.


Aparentemente, não, não vi tudo. Não vi o Snatch até ao fim ainda. 

A Rita vai a S. José

Porque a minha manhã de terça-feira estava a ser demasiado monótona, decidi animá-la com um pequeno acidente pessoal e uma visita a S. José, com direito a mini-pânico e soporífero durante uma hora.

Tenho a dizer que foi uma experiência extremamente positiva, não só por ter tido a oportunidade única de me pavonear pelas urgências, enquanto envergava o pijama xxxL e chinelinhos de papel crepe oficiais do hospital, mas também por ter tido a sorte de ficar arrumada entre uma senhora de bigode e um senhor que tinha engolido várias centenas de objetos estranhos e sobretudo por, a partir de hoje, poder dizer que fui à plástica antes dos 30.

Rita 2.0

Tenho a comunicar ao mundo que, desde 25 de dezembro, pertenço a uma elite de qualidade e distinção supremas: a secção da raça humana que possui smartwatches.

Agora, sou algo extremamente próximo do tipo mau do Exterminador Implacável 2 (mas ainda só me liquidifico na zona das pernas depois de corridas muito longas): de cara feroz, sempre alerta e com o máximo de informação possível. 

Assim, alerto-vos para a eventualidade de em encontros futuros a minha atenção se dividir não igualmente entre 3 ecrãs: o do smartphone, o do smartwatch e a vossa cara. 

Minto, minto. Eu nem sou de estar à conversa com os olhos postos no telemóvel, mas seguramente tornar-me-hei num sucesso das noites de lisboa, quando chamar um uber estilo Kitt. 

Dia 1 de trabalho, 2016

Porque ter de ir trabalhar sob um sol inexistente e chuviscos constantes, depois de 11 dias de férias de glorioso fare niente não era suficientemente doloroso, deus decidiu que eu iria padecer do esquecimento agudo (que habitualmente me atinge sempre que volto de férias): deixar o portátil do trabalho em casa e aperceber-me de tal facto apenas nos segundos anteriores à entrada das carruagens do metro no cais.

Compreensivelmente, vociferei palavrões diversos, enquanto fazia o caminho de volta para casa e o caminho de volta para o metro de portátil a pesar-me no ombro e pele húmida sob os casacos e casacões que o presente tempo negro exige.

Bom ano? Ha!


Querido 2015

Chegaste como todos os outros anos de forma inevitável perante o meu nariz semi torcido de falta de interesse, mas rapidamente te revelaste um Sr. Ano cheio de aventuras e surpresas.

Fizeste-me correr 500km - a mim, eternal hater de todo o exercício físico superior a uma caminhada no centro comercial - e 21 deles foram de um só fôlego. Continuaste a ver-me capaz de fazer 10 flexões, ainda que as últimas 4 sejam em modo 'acabei de dar sangue e não comi as bolachas que a enfermeira deu'.

Levaste-me ao meu destino de sonho desde que me lembro de ser capaz de mudar o canal de tv sozinha e permitiste-me vislumbrar bem de perto (aquele eu acredito piamente que era) o Francis Ford Coppola.

Trouxeste mais um bebé ao mundo, contribuindo para a minha habituação educativa a pequenos seres incapazes de praticar atividades, mas mestres em absorver toda a atenção de uma sala.

Estiveste comigo na sempre aventura que é renovar o cartão do cidadão sem poder estar de óculos no momento em que tiro a foto, pestanejando cegamente para a mancha cinzenta que imagino ser a câmara, e viste-me sair de lá com o sorriso orgulhoso de quem acabou de tirar um retrato apenas medianamente presidiário.

E, naturalmente, lembraste-me de que por mais franjas que pense em fazer, nunca alguma chegará ao nível dos melhores cabeludos do mundo:



Estiveste muito bem, 2015 (9 em 10, se estivessemos no dear cinema).
2016, porta-te e tráz-me os meus 30 recheados e bem embrulhados que eu adoro abrir presentes.