Estou a sofrer do síndrome o rabo não me cabe nas calças.

Bem, ele até cabe, mas fica ali estrafegado género saco de cama enfiado a extremo custo dentro do seu saquinho protetor após 3 dias de festival de verão (por favor, não estejam já a visualizar o meu rabo em tamanho de autocarro. Aliás, de preferência não o visualizem de todo (tarefa difícil dado não ter ainda falado em mais nada para além da gigantez do meu rabo)). Mas, verdade verdadeira é que ele está efetivamente difícil de arrumar. Sinto-me solidária com o conjunto de mulheres que ouço, desde pequena, dizerem “tudo o que como a mais vai diretamente para o rabo” e ainda mais solidária com aquele outro conjunto que diz “eu cá engordo racionalmente: em todo o lado”.

Louvados sejam os modelos de calças relaxed que populam as lojas este ano. Para além de sentir que ando à solta (men, you are not alone), gosto de pensar que é um sinal de que os estilistas estão a sorrir levemente do alto dos seus estiradores, enquanto rabiscam corpos esbeltos em trajes coloridos com a mão direita e seguram um cigarro fumegante com a esquerda, pensando para si mesmos, sim Rita, é OK estar gorda, podes relaxar.

Querido 2015

Chegaste como todos os outros anos de forma inevitável perante o meu nariz semi torcido de falta de interesse, mas rapidamente te revelaste um Sr. Ano cheio de aventuras e surpresas.

Fizeste-me correr 500km - a mim, eternal hater de todo o exercício físico superior a uma caminhada no centro comercial - e 21 deles foram de um só fôlego. Continuaste a ver-me capaz de fazer 10 flexões, ainda que as últimas 4 sejam em modo 'acabei de dar sangue e não comi as bolachas que a enfermeira deu'.

Levaste-me ao meu destino de sonho desde que me lembro de ser capaz de mudar o canal de tv sozinha e permitiste-me vislumbrar bem de perto (aquele eu acredito piamente que era) o Francis Ford Coppola.

Trouxeste mais um bebé ao mundo, contribuindo para a minha habituação educativa a pequenos seres incapazes de praticar atividades, mas mestres em absorver toda a atenção de uma sala.

Estiveste comigo na sempre aventura que é renovar o cartão do cidadão sem poder estar de óculos no momento em que tiro a foto, pestanejando cegamente para a mancha cinzenta que imagino ser a câmara, e viste-me sair de lá com o sorriso orgulhoso de quem acabou de tirar um retrato apenas medianamente presidiário.

E, naturalmente, lembraste-me de que por mais franjas que pense em fazer, nunca alguma chegará ao nível dos melhores cabeludos do mundo:



Estiveste muito bem, 2015 (9 em 10, se estivessemos no dear cinema).
2016, porta-te e tráz-me os meus 30 recheados e bem embrulhados que eu adoro abrir presentes. 

A aleatoriedade dos meus sonhos claramente justifica as minhas ocasionais atitudes de estúpida

Hoje de manhã sonhei que estava num restaurante quando, de súbito, reparei que na mesa ao lado estava sentado a jantar o Clint Eastwood. Fiquei histérica (sendo o meu histerismo algo previsivelmente comedido: os meus membros congelam e as minhas costas ficam subtilmente escorregadias, mas a minha cara permanece no seu estado sério-enjoado do costume). Pensei no que lhe poderia dizer. Não era pessoa para lançar um mortalmente aborrecido adoro os seus filmes!, por isso conformei-me com uma opção honesta e disse-lhe não fui ver o Million Dollar Baby ao cinema, mas mais tarde, com alguma relutância, vi-o em casa e chorei como uma madalena de 3 anos que acabou de deixar cair o gelado ao chão e de levar um pontapé na canela do irmão mais novo. Ele sorriu e deixou-me tirar uma foto com ele, em que eu sorria descontroladamente de testa e queixo luzidios.

Momentos depois estava a sonhar que tinha fungos em forma de pequenos morangos que me nasciam por todo o corpo. Assim que acordei, fui pesquisar "morangos fungos" no telemóvel (graças a deus só apareciam morangos com bolorzinho, tudo alheio ao corpo humano). Só me recordei desta parte hoje à tarde quando pesquisava qualquer outra coisa. Brrrggg.

Alguns feitos memoráveis que demonstram claramente que, apesar de perfeita, vivo o ocasional momento de burrice como todos vós

Aquela vez em que dei um beijinho à Murphy logo a seguir a ter-lhe posto a ampola para as pulgas e fiquei o resto do dia com os lábios dormentes ao estilo anestesia hardcore comum apenas nos recém des-sisados.

Aquela vez em que achei que era perfeitamente exequível beber um chocolate quente do Starbucks acabadinho de servir num carro em andamento sem me queimar ou sujar.

Aquela vez na 1ª classe (bibe castanho para os João de Deus connoisseurs) em que no espetáculo de natal no Teatro Maria Matos, estávamos organizados em 2 grandes filas indianas, eu levei a miúda que liderava a minha fila a acreditar que tínhamos de ir para a esquerda em vez de para a direita e a cortina do palco desceu, anunciando o fim da atuação, tendo a nossa fila ficado do lado da plateia e as gargalhadas enchido os nossos ouvidos, enquanto as nossas bochechas se enrubesciam.

Pronto, já não estão sozinhos na vossa imperfeição :*

Imaginem então quando tiver filhos. Bam dum tss.

Queria só dizer ao mundo que hoje, depois de 29 anos e qualquer coisa de imaculada existência, senti-me finalmente "exausta". Não estou cansada, nem fatigada. Também não é mariquice. Exaustão é verdadeiramente o único vocábulo que traduz a sensação física que neste preciso momento ocupa todo o volume do meu metro e 57.

Fun fact: ontem dormi 10 horas e hoje nem sequer usei o cérebro no trabalho.

O meu avô fazia anos no mesmo dia que eu

Cheguei à capela por volta da 1 da tarde. Era domingo, 10 de agosto. Suspirei e deixei cair os ombros, pensando em como nada havia que pudesse evitar aquele momento, aquela minha presença ali.
Chamar-lhe capela é uma hipérbole. Eram pouco mais de 20m2 com umas quinze cadeiras dispostas em plateia com vista para o caixão e um sofá, dispostos paralelamente. Não me lembro de cristos ou cruzes. Apenas de que o caixão era claramente a estrela do acontecimento e de que estava aberto.

Sabia que a minha avó acabara de entrar com a minha irmã mais velha, pois vira-as à entrada da capela, enquanto chegava de carro. O facto de a minha irmã já ali estar aqueceu-me o peito. A ideia de ter que estar com a minha avó (viva) e o meu avô (morto) na mesma divisão sem qualquer rede de segurança (mãe, irmãs…) fazia-me sentir como se tivessem colocado o meu estômago a secar num programa de centrifugação máxima. Nunca sei o que dizer em qualquer momento que apresente profundidade emocional superior a zero.

Quando entrei, cumprimentei a minha avó que, apesar de segundos antes estar com um ar apenas semi choroso, rapidamente me abraçou e transitou para um choro contínuo e um chorrilho de palavras de lamento. Afastei-me alguns segundos depois, respirei o ar leve que parecia circular acima das pessoas sentadas nas cadeiras e pousei a minha mala no sofá. Assimilei rapidamente a realidade de que o sofá era para a família e as cadeiras para os restantes.
Para além da minha avó e da minha irmã, a sala estava já preenchida com vários pontos escuros: senhoras velhas de roupa preta e cabelo cinzento, cuja caras me eram remotamente familiares, mas não o suficiente para que as conseguisse ir cumprimentar pro-ativamente.

Lembro-me de olhar para aquela disposição de cadeiras e pessoas e pensar que parecia que estavam todas à espera que subisse o pano e começasse a peça.

O meu avô estava deitado sobre algo que inocentemente identifiquei como um estrado dourado decorado de folhos brancos,  (houve alguém que mais tarde me explicou que se tratava apenas do caixão aberto). A cara estava tapada por um naperonzinho branco rendado, facto que me fez novamente suspirar, desta vez aliviando ligeiramente o nó do meu estômago.
Era estranho vê-lo ali deitado quieto, em pausa permanente. Como quando se está a ver um filme e se carrega no pause para ir buscar algo doce à cozinha, congelando as caras dos atores em palavras cortadas, bocas abertas e pestanejares incompletos. Ainda agora quando penso nele, não consigo materializar a ideia de que ele já não existe, de que ele já não pensa, nem sente. Parece-me que só consigo pensar do meu ponto de vista e imaginar que ele foi para algum lado onde simplesmente não o consigo visitar.
Hoje, um ano depois, cada vez que vou visitar a minha avó, fico à espera de o ver. Acho que esta estranheza nunca vai desaparecer. Fica simplesmente disfarçada sob as coisas mundanas do dia a dia em 99% do tempo.

O meu avô fazia anos no mesmo dia que eu. 26 de julho. Naquele dia, ele costumava dizer com uma alegria desmedida a quem quisesse ouvir que eu nunca me esqueceria dele e que mais tarde, quando ele já cá não estivesse, diria o meu avô fazia anos no mesmo dia que eu.

Só no primeiro jantar de família em casa da minha avó, a seguir ao 10 de agosto, quando as minhas irmãs e mãe, depois de algum embaraço, disseram para me sentar no lugar do meu avô, é que me apercebi que provavelmente de todas nós eu era a mais parecida com ele. Leões, orgulhosos, reservados e sempre convencidos de que a nossa opinião era a que mais contava, falávamos apenas quando tínhamos algo relevante para dizer. 28 anos demorei eu a ver isto.

O meu avô fazia anos no mesmo dia que eu.

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O 1000º post do dc é dedicado ao meu avô António, faria hoje 91 anos e 15 dias.

Sabes que tens 29 anos quando...

...inocentemente pegas num vestido comprido, descobres que na parte da frente o vestido só chega até ao umbigo, a tua reação é esbugalhar os olhos para a pessoa que foi contigo às compras (e que também nasceu em '86), riem histericamente durante 5min, tiram uma foto ao vestido porque é simplesmente o momento mais emocionante dos últimos meses e aceitas que tens de deixar de entrar (de vez!) na Pull&Bear.