Medos

Há certas certezas que me acompanham na vida desde há meias e meias dúzias de anos que são de tal forma inabaláveis que por mais cérebros inteligentes que me tentem convencer do contrário, sei que nada mudará. Uma delas é a minha convicção de que um ser humano não pode ser totalmente adulto, se ainda se tiver medo de ficar fechado na casa do lixo.

Só na década passada ultrapassei o medo do escuro (ainda tenho a recaída ocasional, sobretudo se estiver a dormir em quartos com armários grandes de madeira escura - como é que as crianças chegavam à adolescência na fase pré-Ikea, pergunto-me), por isso estou confiante de que ainda vou demorar até conseguir ficar fechada na mesma divisão que caixotes gigantes coloridos recheados de conteúdo cheiroso sem ficar com arritmia. Deixo sempre a perna estendida com o pezinho a segurar a porta, porque tenho a certeza ABSOLUTA de que se a ela se fechar assim permanecerá para toda a eternidade que nem pedras gigantes bloqueantes de túmulos do Vale dos Reis.

Posto isto, se estiverem perto de mim e me virem com um saco do lixo, sejam adoráveis e perguntem-me se preciso de ajuda - prometo que vou aceitar (apesar da minha quase-fobia a aceitar ajudar - sim, sou a rainha dos medos encadeados).