Porque a vida de uma dona de casa pode ser realmente desesperante


Antes que alguém comece a gritar que eu sou a pessoa que menos tem em si o gene fada do lar, deixem-me esclarecer que, apesar da minha extrema incapacidade para fazer ovos estrelados ou... cof*arroz*cof (é verdade, tentei, voltei a tentar, voltei a voltar a tentar e fracassei), até apresento dois ou três neurónios domésticos. Faço diversas visitas ao supermercado (sei que é importante ver as datas de validade e se os ovos estão partidos ou não), aqueço coisas com bastante frequência (e, note-se, até tenho bastante jeito para a coisa!), sei para que servem os botões do forno e do fogão (aprendi recentemente que o forno funciona a electricidade e o fogão a gás de cidade (≠ gás de botija)), entre outras pequenas e pouco úteis coisas.
Hoje, foi um dia assim, em que desempenhei o papel de pequena-dona-de-casa-vai-ao-supermercado-comprar-iogurtes-e-nestum. Tarefa esta, que, como terão a oportunidade de verificar, não é pingo doce, perdão, pêra doce. Tiro o chapéu às donas de casa.
Estava eu a começar a ser atendida (pedi dois sacos de plástico), a senhora da caixa deu-mos, perdão, vendeu-mos e começou a blipar as minhas compras. E de repente, sem qualquer aviso, a tragédia começou! Eu, a lutar para conseguir abrir o primeiro saco, e a senhora da caixa só a blip blip blip a 100 à hora. As compras acumulavam-se e eu ainda não tinha aberto o saco! O suor acumulava-se na minha testa em gotas nada sensuais e os meus dedos não obedeciam às ordens enviadas. Foi então que, já em profundo desespero, cedi e recorri à comum e reles técnica da lambidela do dedo. Senti-me feia e suja, não-merecedora das belas compras que então ensacava. O segundo saco foi mais fácil e as restantes compras, que já ocupavam toda a área disponível, lá foram arrumadas mais rapidamente. Mas a vergonha... oh a vergonha. Essa continuou comigo enquanto saía do estabelecimento e acompanhar-me-á para o resto da vida. A senhora da caixa não foi simpática, é verdade. Não foi prestável. Mas eu... eu dei a lambidela.

Update: afinal sou eu que estou no sopé da pirâmide da cadeia alimentar da sociedade.