eu, para sempre uma pessoa de extremos

Acabei de me sentar no meu lugar designado. Fila 21, assento C. Junto ao corredor, glória extrema.

Olho para o lado esquerdo e vejo um rapaz da minha idade e ar nórdico a falar em língua gestual com uma rapariga por vídeochamada. Claramente, namorados. Estão a fazer gestos românticos. Volto a cabeça para a frente e sorrio. O amor vive.

Inspiro longamente e encosto-me por completo na cadeira. Quase por completo. Olho para o lado direito e a um centímetro de mim está uma rapariga também da minha idade cujo casaco de inverno de recheio almofadado e arestas felpudas estrategicamente colocado como amortecedor entre o seu corpo e o assento ocupa muito mais do que o seu espaço designado. Serro os lábios e deixo que os meus molares inferiores empurrem os superiores com demasiada força, enquanto com o ombro direito luto para alcançar as costas do assento, por entre a penugem animal do casaco da miúda-verme. Se o corpo humano conseguisse produzir ódio em estado líquido, eu seria neste instante a versão homo sapiens das Cataratas do Niágara.

Love me or go the fuck home.