I got 666 problems and I bet you ain't one

Tenho um medo imenso de morrer. É imenso de tal forma que às vezes deixo de conseguir respirar porque o desespero me invade com tentáculos crescentes que parecem envolver todos os meus canais respiratórios e de pensamento.

Assusta-me a realidade de de um momento para outro tudo se apagar e o escuro ser a presença constante e única. Não mais poder acordar, sentir o peso do corpo leve sobre o colchão (Headspace FTW), sentir o toque de um sol brilhante e acariciar caras caninas felpudas que me olham cheias de bondade e se inclinam sobre a minha mão. Depois penso, se não perceber o que aconteceu, se calhar não me vai custar. E ainda depois penso, mas como não vou saber? Vou largar tudo sem qualquer aviso? Sem um último vislumbre das coisas boas?

Também tenho medo de morrer de forma estúpida, de desperdiçar esta oportunidade que a natureza me atribuiu por algum milagre biológico absolutamente aleatório de poder respirar, ver, ouvir e sentir sem chegar a sentir a satisfação de ter vivido uma vida cheia. De dizer, vou-me, mas fiz tudo (ou quase tudo) o que sonhava. Morrer estupidamente assim como quem se estica para desligar o aquecedor sem sair totalmente na cama, de luz apagada, e bate com a cabeça na esquina da mesa de cabeceira e ali fica desanimada para sempre. Como quem corre junto ao rio e não repara num fio de pesca de um de meia dúzia de pescadores que debruçados sobre o Tejo tentam a sua sorte ou passam o seu tempo e fica sem cabeça.

Suponho que o maior pedaço de medo será mais pelo término antecipado de uma vida inútil, incompleta, insegura do que propriamente pela morte estúpida.

De qualquer forma, não saberás, diz satanás enquanto atira a cabeça para trás e se ri histericamente.

O melhor é apressar-me e fazer algo de jeito. E abrir os olhos quando vou correr.