1986

Hoje, no emprego, alguém dizia “são estagiários que nasceram em 1999 e 2000”.

Já sou velha o suficiente para sentir o cérebro a congelar e o coração a abrandar para ritmos de urso em hibernação quando ouço frases destas. Fuck, i’m old, corre em loop no rodapé do ecrã dos meus olhos.

Nasci em 1986 e, como tudo o que diz respeito à minha pessoa, acho que a minha geração é a melhor de sempre.

Acordávamos às 7h para ver desenhos animados num dos 4 canais (no dia em que tive tv cabo, fiquei a ver Panda até às 11 da noite e foi do caraças). Fomos criados pelo Dragonball, Navegante da Lua, Mortal Kombat e o jogo dos hipopótamos a comer bolas. Aprendemos a viver com a possibilidade de não ter muitas escolhas. Éramos sucintos para que tudo coubesse num único SMS. Dávamos toques, porque ficávamos sem saldo (e porque era fixe). Aprendemos a valorizar o dinheiro.

Neste momento da humanidade, estamos altamente ocupados a consumir ao máximo os serviços das igrejas e dos registos civis, aluguer de tendas, fornecimento de pratos em demasia por refeição, decoração de mesas temáticas para celebrar desde baby showers, nascimentos, casamentos, batizados, aniversários, divórcios, casas novas a aniversários de cães.

Somos filhos da União Europeia e viajamos constantemente. Em dez anos já vimos duas vezes mais do que os nossos pais viram em metade das suas vidas e fazêmo-lo (quase todos) de peito cheio frente a todo o mundo, que via redes (anti)sociais agradavelmente nos persegue.

Não gostamos de passas, nem de bolo rei. Se não somos espetaculares, então mais nada sei.