Glória às férias
Em primeiro lugar, um disclaimer: estou de férias.
Sim, de férias.
Mais uns segundos?
Já reduziram o franzir de testa e o esbugalhar de olhos de total indignação contra a minha ousadia de tirar férias num período em que o senso comum dita que se deve estar a bulir furiosamente e que quem se atreve a escapar da normal temporada patronal deve ser presenteado com estes olhares quasimodianos e frases que em reduzida essência questionam se não me enganei e se na realidade não fui já de ferias?
Agora que ainda me odeiam de igual forma, mas compreendem que pelo menos não estou em incumprimento da lei, saibam que vim à praia.
O interessante desta minha vinda à praia é que permitiu que confirmasse que a minha cobardia em proximidade da água anda a atingir dimensões abismais. Molhar os pés para mim consiste, nos dias correntes destes meus joviais 32 verões, em caminhar sobre a areia que há segundos foi tocada pela onda. Em certas ocasiões, quando não estou tão forte, opto por sentir a temperatura do mar através dos nanossalpicos que se projetam para cerca de 2 metros de distância da zona de rebentação.
Naturalmente, este meu handicap foi rapidamente identificado pelo meu professor de surf, quando pela primeira vez entrámos na água e a minha expressão de terror e postura paralisada lhe deram a entender em meio segundo que eu tinha medo da água, das ondas, da corrente, da rebentação, das rochas, das algas, dos peixes e dos grãos de areia mais escuros.
Eu culpo a minha infância em Santa Cruz, onde ir à praia não incluía ir ao mar, a não ser para quem desejava uma morte molhada.
Conclusão: se virem uma jovem adulta a três metros do mar de ar satisfeito há uma possibilidade superior a zero de ser eu. (Mas não parem, continuem a andar, OK?)